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Autor: Cesar Otacílio, artista plástico.
Artigo 01)
PAGANDO UMA DÍVIDA AO HSA.
Neste ano, 2024, depois de mais uma cirurgia submetida no Hospital Santo Antônio, o HSA, a segunda nessa casa de saúde, procurei a administração para oferecer uma obra com a minha assinatura ao acervo desse hospital. Seria uma forma de agradecimento aos inúmeros atendimentos médicos recebidos através dos anos. Na minha forma de pensar, com atendimentos desde problema estomacal, acidente de moto, tendão de aquiles rompido no futebol, hérnia inguinal, entre outros, além de diversos atendimentos também à minha família, sentia possuir uma dívida moral com o HSA. Em 1994, a minha filha nasceu no HSA. Em 2021, minha mãe passou por uma cirurgia de risco e, tudo correu bem. Por isso, na condição de pintor, o desenvolvendo de uma pintura é a maneira mais honesta que conheço para agradecer a atenção recebida no HSA.
Aqui, em 2024, com Tarsila, a filha nascida pelas mãos de uma médica no HSA.
De todos os atendimentos no HSA, um bastante preocupante aconteceu comigo em 1984, quando sofri um grave acidente.
Naqueles dias, uma chuva intermitente castigava Blumenau. O Rio Itajaí-Açú subia assustadoramente presságiando mais uma grande enchente na região. Eu, numa agitação natural pré-enchente, ao chegar em casa apressado, subi correndo a escada de concreto da entrada e, tropecei, cai, batendo a cabeça violetamente num degrau. Por sorte, fui conduzido as pressas, e em coma, ao HSA. Acredito, a rápida intervenção recebida me salvou. Depois da alguns dias, ao receber alta, ainda com uma enorme hematoma roxa na testa, sentia no peito um sentimento de agradecimento aos médicos e enfermeiras do HSA. Foi a primeira vez que pensei seriamente em oferecer uma pintura com a minha assinatura ao HSA. Na verdade, da grandeza do atendimento e dedicação que todos os hospitais preservam, considerava a possibilidade da minha oferta nâo ser aceita pela direção do HSA. Afinal, todos tem o direito de gostar, ou não, do meu trabalho. O tempo passou, só agora, 40 anos depois, após passar por mais uma sirurgia, me encorajei levar a cabo a minha intenção de oferecer uma obra ao acervo do HSA. Foi o que fiz e, para a minha alegria, o HSA aceitou a minha oferta.
Artigo 02)
A IMPORTÂNCIA DO HSA PARA TODAS AS PESSOAS.
É impossível medir a importância de um hospital, igual o HSA, para todas as pessoas que o procuram. Tudo porque, a saúde é o bem mais precioso na vida das pessoas. Nessa linha, o HSA tem sido vital para Blumenau desde 1860, o ano da sua fundação e, para mim, desde 1977, o ano que cheguei em Blumenau vindo de Pouso Redondo. Na verdade, a história nos mostra que a necessidade de um hospital para atender todas as pessoas em Blumenau, foi percebida pelo próprio fundador da colônia, o colonizador alemão, filósofo, com conhecimentos em farmácia e química, Dr. Hermann Blumenau (Hasselfelde, 1819 - Braunschweig, 1899). Preocupado com a saúde dos moradores da colonia que fundou, em 1850, Dr. Hermann Blumenau percebeu bem cedo a necessidade de contratar um médico para atender todas os moradores em Blumenau. Assim, em 1857, buscou na Alemanha, seu país de origem, um médico conceituado que aceitasse se aventurar à terra distante. Esse desafio foi aceito pelo Dr. Gustav Bernhard Knoblauch, ou simplesmente, Dr. Bernardo Knoblauch, (nascimento em Berlim, 1829 -falecimento em Blumenau, 1872). Formado pela Universidade de Jena, Alemanha, foi o primeiro médico oficial contratado na história de Blumenau.
Dr, Bernardo Knoblauch, o primeiro médico oficial de Blumenau, a obra "Nascimento" é dedicado à ele.
Dr. Bernardo Knoblauch assumiu o cargo de médico oficial da Colônia até sua morte, em 1872. Dessa maneira, entre feitos importantes, podemos apontá-lo como o primeiro médico a realizar um parto no HSA. Por isso, dada a importância desse fato, é a ele dedicado a minha obra "Nascimento" que estará, a partir do dia 14 de novembro, 2024, numa parede no HSA. A força dessa dedicatória é, principalmente. devido a minha filha, Tarsila, ter nascido no HSA, em 1994. Assim, desde o momento que dei nome a obra "Nascimento", pretendia dedicá-la ao médico -confirmado- do primeiro parto realizado no HSA. Mas, ao pesquisar sobre o tema, não consegui encontrar detalhes mais precisos sobre os primeiros partos acontecidos no HSA. Certamente, a falta de registros é devido a perda de documentos importantes no incêndio ocorrido, em 1958, na antiga prefeitura de Blumenau onde ficavam os arquivos documentais do século XIX. Mas, ao se aprofundar na história, é sabido que Dr. Bernardo Knoblauch ocupou o cargo de médico oficial da colonia Blumenau até a sua morte, em 1872. Tambem, não se tem conhecimento de outro médico trababalhando em Blumenau no período colonial. Então, a conclusão: foi ele mesmo, Dr Bernardo Knoblauch, o médico que realizou o primeiro parto na história do HSA. Dessa maneira, outra conclusão lógica é que foi ele o primeiro médico clínico geral a atender no HSA.
A chegada do Dr. Bernardo Knoblauch é um marco na história da saúde em Blumenau. Aqui ele encontrou muito trabalho, carinho, apoio, e o desafio de medicar numa comunidade em formação, alojamentos improvisados na própria moradia, medicamentos escassos e remédios para doenças específicas muito demorados para chegar. Mesmo assim, conseguiu dar atendimento a toda população de Blumenau, que, em 1857, já contava com dois mil moradores. Sua morte, em 1872, foi resultado de uma queda na escada de uma casa após realizar mais parto, a domicílio, em Blumenau.
Dr. Bernardo Knoblauch foi muito respeitado pela população, sendo sempre muito procurado. Foi os trabalhos sobrecarregados do Dr. Bernardo Knoblauch, na própria residência, que se tornou visível para Dr. Blumenau, e aos administradores do Estado, também aos representantes da monarquia, a necessidade da fundação de um hospital na Colônia Blumenau. Com muita dedicação e luta encbeçada por Dr. Blumenau, isso se tornou realidade em 1860, com a fundação do Hospital Santo Antônio, o HSA. Inclusive, vale destacar, com parte dos investimentos para construí-lo saidos do próprio bolso de Dr. Blumenau.
A importância do HSA cresceu vertiginosamente através dos anos. Hoje é considerado um dos hospitais mais importantes, moderno e prestigiado de Santa Catarina.
Assim, 164 anos depois, o legado do Dr. Hermann Blumenau continua mostrando a grandeza do seu pensamento e a clareza da sua visão. Seu sonho não foi em vão. O Hospital Santo Antônio é a comprovação dos feitos humanitários da sua obra. Seu legado de cuidar da saúde e salvar pessoas, continua vivo e forte em Blumenau. Seu legado é para todos. Um dia, em 1984, o legado do Dr. Hermann Blumenau também me salvou.
Artigo 03)CRÔNIC:DA VIDA POR UM FIO NO HSA, AO MORAR NUMA PRAIA SILVESTRE.
A mais preocupante internação, como já aiante, pela qual passei pelo HSA, aconteceu em 1984, quando, depois de um acidente, minha vida ficou por um fio. E, o acidente, teve relação com as águas do Rio Itajaí que, naquele momento, subiam assustadoramente dando incio a uma enchente que ainda viria ser conhecida como das maiores na história de Blumenau. Naquele dia, quando o aumento repentino das águas do Rio Itajaí comecava preocupar, sai de casa de bicicleta para ir até a Rua Alwim Schrader, local da empresa onde trabalhava, a Clicheria Blumenau. Queria saber da situação. Como possuia a chave, ao entrar nela o que presenciei assustou-me demais: a água barrenta estava tomando conta de tudo. Voltei em disparada para casa com a intenção de conseguir ajuda e retirar, do setor onde trabalhava, os produtos de fotografia e as cartelas de Letraset (letras decalcáveis usadas na época nas artes-finais, um produto que não existe mais). A intenção era, também, conseguir ajuda para retirar, ou levantar, as máquinas e as bombonas de ácido usado para a fabricação de clichês. Sim, eu trabalhava numa fábrica de clichês. Sozinho pouco poderia fazer. Então, tinha que conseguir ajuda. Pedalando de volta em direção a minha casa, estava "voando" com a bicicleta. Ao chegar em frente da casa, larguei a bicicleta num canto da rua e, como já mencionei, subi em disparada a escada de concreto da entrada. Foi então que tropecei, cai, batendo violentamente a cabeça num dos degraus. Foi apagão instantâneo. Por sorte, morava com um dos meus sete irmãos e havia outras pessoas por perto que presenciaram a cena. Fui socorrido e Imediatamente conduzido ao HSA, trezentos metros distante. A situação não era das melhores, a testa estava com um hematoma roxo, inchasso enorme, sangue escorria da testa e muito mais pelo nariz. Nada falava, a única comprovação de vida, para alívio do meu irmão, eram os movimentos bruscos que aconteciam de tempos em tempos como se estivesse levando choques elétricos. Internado em coma, depois de alguns dias acordei, para a alegria do meu irmão que se mantinha em vigília no HSA. Foi alívio também para os médicos e para as enfermeiras ao me verem acordado, lúcido, falante e, ao ser perguntado, não havia esquecido o nome, nem a idade. Queria revistas para ler, queria saber o que havia acontecido; onde estava, quem eram elas, as enfermeiras, etc. Para mim, daqueles momentos em coma, ainda recordo e mesmo num sono profundo, o meu cérebro continuava ativo, viajava longe e parecia que estava vivendo um sonho doido. Tudo parecia feliz. Escutava murmúrios, até música distante e em eco. Ainda lembro dos momentos quando estava sendo conduzido pelo corredor do HSA, acho que deveria estar com os olhos meio abertos, pois parecia que estava num corredor luxuoso do Palácio de Versalhes do rei Luiz XIV (o delírio nesse tema foi, talvez, devido uma matéria numa revista que havia acabado de ler). Em coma, tudo era bonito, cores pulsavam, escutava vozes incompreendidas. Havia amarelo, azul e verde que brilhavam pulsando ao meu lado, o que me dexava admirado. Sentia perfume de flores e estava num lugar onde escutava uma música bem bonita e distante. Aquela alucinação estava sendo fantástica, parecia estar num paraíso de onde não tinha a menor intenção de sair. Se religioso fanático eu fosse, poderia concluir que estava andando em direção ao céu, pois se estivesse em direção ao inferno, certamente o local seria horrível e com cheiro de podre (risos).
Depois que recebi alta no ĤSA, sem perceber a minha vida se transformou. Parece que a batida forte na cabeça, mais o soro injetado em mim no HSA, mudaram a minha maneira de sentir a vida. Em poucos dias, pedi demissão na empresa onde trabalhava com bom salário de ilustrador e arte finalista (eu era o maior salário da empresa). Num rompante inesperado para todas as pessoas ao meu redor, especialmente para meu irmão, comecei a anunciar que logo me mudaria para uma praia deserta de Florianópolis. Nem sabia qual praia seria, afinal, ainda não conhecia nenhuma praia em Florianópolis. Meu irmão, assustado, considerou a ideia uma doideira, já que pouco tempo antes eu havia conquistado um prêmio importante de pintura no MASP, SP e, lteralmente enchido os bolsos de dinheiro. Deveria mesmo era se mudar para São Paulo, aproveitar o calor do prêmio, ainda recente, e fazer muitas exposições o e cuia num ônibus em direção à Florianópolis. Chegando na rodoviária, como não sabia qual praia ficaria, perguntamos a uns rapazes que pareciam gostar do mar: onde havia uma praia deserta que desse para acampar sem gastar dinheiro? Com essa pergunta inusitada, cheguei à Praia da Solidão em companhia do meu irmão. Ele ficou duas semanas, ajudou a organizar o acampamento e voltou para Blumenau onde tinha emprego. Logo, como num sonho, eu passei a morar totalmente sozinho, numa barraca, e numa praia totalmente selvagem e deserta, a Praia da Solidão, Pantano do Sul, sul da Ilha Santa Catarina, em Florianópolis.
Até hoje é a aventura mais incrível, apaixonante, inspiradora e perigosa que já fiz na vida. Aquela batida forte na cabeça deve ter soltado mais alguns parafusos no crânio, era a concordância e o que falavam para mim todos os meus amigos próximos.VIVENDO EM PLENA SOLIDÃO NA PRAIA DA SOLIDÃO.
Morando numa barraca na Praia da Solidão, uma nova rotina passei a viver. Não raro passava semanas sem falar, nem ver um ser humano. Fiquei morando por oito meses assim, em companhia apenas de uma cadelinha negra encontrada na praia, siris, buzios, cobras, lagartos, material de pintura e muitos livros. A praia toda era só minha, pelo menos era assim que consideravam os pescadores, surfistas e os campistas que enfrentavam a pé os 10 km de caminhada do Pântano do Sul até a Praia da Solidão. Todos que lá chegavam vinham até mim para saber onde era o melhor local para passar o dia, se podiam ficar nos finais de semanas, ali, na minha praia particular. Sim, quem lá chegava, me considerava um homem corajoso, destemido, além de louco por morar numa barraca, e sozinho, numa praia infestada de cobras peçonhentas. Desenhei, pintei, até desenvolvi uma coleção de desenhos texteis comerciais, temática marinha, que posteriormente foram apresentados e vendidos, por meu irmão, nas principais fabricas de camisetas de Blumenau. Tinha dinheiro, mas não havia onde gastar na Praia da Solidão. Para tomar uma cerveja gelada, por exemplo, era preciso caminhar 20 km de ida e volta aos bares do Pântano do Sul.FESTAS E PERIGOS VIVENDO NA SOLIDÃO NA PRAIA DA SOLIDÃO.
Não era só festas, perigos extremos também era rotina na silvestre Praia da Solidão, hoje uma praia de veranistas abastados. Numa madrugada enfrentei tempestade de vento fortíssimo, chuva massiva que fez surgir um rio subterrâneo vindo da cachoeirinha (que lâ tem), e bem atrás da barraca, dando muito serviço para não deixá-la ser arrastada. Galhos de árvores quebravam ao lado, as árvores assoitadas pelo vento pareciam que cairiam em cima da barraca. Tudo acontecendo na escuridão total luminado apenas pelas descargas dos raios caindo perto. Também, enfrentei ressaca do mar com a água entrando na barraca.
Tudo era diversão. Aliás, mesmo rindo bastante, especialmente de mim mesmo, tudo era enfrentrado com muita seriedade e cuidados. Afinal, estava morando sózinho num local selvagem e perigoso. Em caso de um acidente, uma picada de cobra, por exemplo, não havia a quem pedir socorro. Portanto, cuidados extremos se tornaram necessários. Circular pela vegetação seca, somente com um cajado batendo a frente dos passos e, assim conseguir descobrir as cobras pelo caminho. Já para dormir tranquilo, cochão elevado com varas de bambú, um metro acima do chão se tornou necessário para as cobras não passarem por cima do peito, etc. Nas noites nostálgicas com o som do vento e do mar ao fundo, uma vela dentro de um vidro de conserva era o melhor lampião para iluminar o jantar, ler e desenhar.
A visão constante de cobras circulando perto da barraca causava temores. E, mesmo num pior pesadelo, nada se comparou a sensação congelante de ver e sentir uma cobra coral andando, parando, descansand por incontáveis minutos entre os pés descalços na hora do almoço. A sensação do corpo daquela cobra andando encostada e sobre os meus pés ainda me causa insônia. A sensação? Nem fria, nem quente, apenas temperatura ambiente. Noutra ocasião, outro terror provindo de outtra cobra peçonhenta. Dessa vez, o susto foi colocar a mão dez centímetros à frente de uma cobra jararaca que se encontrava na caixa de macarrão. E dentro da barraca. Foi de congelar a espinha, de tão inesperado, até a cobra se assustou antes de se enrolar para dar o bote. Naquele momento, o meu princípio de não matar nenhum animal na Solidão (no duplo sentido), começava a ficar comprometido com cobras entrando na barraca. . Não só cobras dentra da barraca, os perigos eram constantes em todas as âreas da Praia da Solidão. No crepúsculo de um dia quente, ao nadar no mar como fazia quase todas as manhãs, um desafio descomunal tive que enfrentar. Naquele amanhecer, sai correndo da barraca e me joguei no mar na companhia da minha cadelinha negra. Nadei, mergulhei e, de repente, me vi afastado demais da praia. Ao tentar nadar de volta, não consegui avançar e a praia ficava cada vez mais distante. Logo percebi a gravidade da situação e, não havia ninguém a quem pudesse pedir ajuda. Por sorte, eu nadava e mergulhava muito bem e naquele momento estava preparado fisicamente para grandes desafios. De verdade, me sentia bem forte, primeiro devido ter trabalhado na roça quando garoto, depois devido jogos de futebol desde criança e, ali, a energia vinha da alimentação a base de frutos do mar que preparava todos os dias no meu fogão-grelha. Só não estava preparado para enfrentar sózinho o Atlântico. A situação só piorava; estava sendo levado para o costão onde as ondas arrebentavam nas pedras com violência. Ali, pouca chance teria de ecapar. Apesar de tudo, estava calmo. De tempos em tempos tentava nadar de volta à praia, não conseguia. Cansava, boiava para descansar. Quando nada9va, nadava como nunca na vida, e nada avançava. Tentava surfar as ondas com o peito, como fazia para se divertir, também não dava resultados. O mar ficava cada vez mais furioso, urrava um som assustador que nem ouvia, concentrado que estava em sair do mar. Continuei lutando, não me entreguei em nenhum momento, usei todas as minhas forças e, finalmente, depois de duas horas, mais ou menos, consegui sair do mar. O que contribui para sair daquela situação deseperadota, foi manter a calma e ter boa energia física naquele momento. Também, a técnica de mergulhar até o fundo do mar, onde a força da onda é menor, firmar os pés na areia e forçar correr debaixo da água em direção à praia. Isso precisa ser feito muitas vezes, tem que usar todas as forças; deu certo para mim. Apenas outro dia perigoso vivendo na Solidão (no duplo sentido). Nem só o perigo e ser picado por cobra peçonhenta, ou se afogar no mar, faziam a rotina morando na Praia da Solidão. Fatos belíssimo e raros também foram apreciados, e somente por mim. A visão de baleias brincando bem perto e cardumes de tainhotas no amanhecer, ambos quase encalhando na areia da praia, eram deleites raros e inesperados. Num outro amanhecer, quando andava no "caminho da roça" para mergulhar no costão e coletar buzios de grande tamanho e mariscos enormes, de 15 a 20 cm , me deparei com uma cena impressionante. De repente, vi que todas as pedras banhadas pela água estavam cobertas de búzios amontoados. Para onde eu olhava, havia buzios grudados. De todos os tamanhos, de várias cores, alguns gigantes, outros pequeninhos. Nunca tinha visto, nem nunca mais vi, algo parecido. Milhare deles. Nada sabia a respeito, unica certeza se tratar do acasalamento dos moluscos. Foi rápido, logo que o sol nasceu desapareceram por completo, restando apenas alguns buzios pequenos boiando mortos na água.
Naquele verão, vivendo na Solidão (no duplo sentido), namoradas ocasionais chegavam com mochilas e barracas nas costas para passar os finais de semanas, ou feriados, na praia. Delas, uma proporcionou enorme perigo. Motivo: Casada. E, por não perguntar, nada sabia desse fato. Na verdade, tirando a alegria em receber suas visitas com chocolates e vinho, ela foi o maior perigo na Praia da Solidão. Perigo maior, até, de ser picado por uma cobra peçonhenta dentro, ou ao redor da barraca. Tudo porque, seu marido, um cidadão festivo que trabalhava em Florianópolis, musculoso, nervoso, um tipo que adorava armas, dar tiros em árvores, me ameaçou com um revolver. Por sorte, ao me mostrar a arma, mexendo no gatilho, colocando e tirando os cartuchos, fazendo enorme barulho, disse-me apenas: " Fique calmo, a arma não é pra você. É para os malandros da praia que pegam as mulheres bonitas casadas". Falou olhando desconfiado pra mim com cara de poucos amigos. Claro que não acrditei nele e, ufa, eita, que barbaridade, me odei por estar naquela situação tão perigosa. Depois de quase levar um tiro de um marido desconfiado, pensei: Melhor começar a perguntar para as mulheres bonitas e apaixonanadas, que chegam na praia, se são casadas, ou não.
O verão passou. Depois de muitos meses, num belo dia, um eco nunca ouvido antes de máquinas na Praia da Solidão, se fez presente. Ronco de motor diesel poderoso ecoava forte num dia de vento sul. Os morros, insatisfeitos com o enorme barulho, mostravam seus desagrados devolvendo o eco, como quem se livra do lixo indesejado. Não demorou, e o monstro apareceu na figura de uma grande maquina de esteira rolante. Poderosa, derrubava árvores, afastava pedras, removia terra, assustando todos os seres vivos e acordando todos os seres mortos que, desde a pré-história, habitam a Praia da Solidão. Uma estrada estava sendo aberta no meio do mato para chegar até a praia. Com isso, ouve uma mudança radical nos tipos de frequentadores na Praia da Solidão. Agora, não era mais jovens campistas alegres andando a pé que apareciam na praia e, sim, homens rudes, de pouca conversa, que chegavam de carro, ou de caminhonetas, trazendo ferramentas, morões e muito arame farpado para cercar uma área pré-demarcada. Rapidamente, um silêncio ensurdecedor tomou conta da Praia da Solidão. Logo começou uma disputa silenciosa para demarcar com cerca de arame, com barracos erguidos com madeira barata num dia só, porteiras com cadeados, as melhores áreas próximas ao mar. Começou com um barraco, surgido rápito num dia qualquer, cuidadosamente cercado com morões de concreto, alambrado de arame farpado, portera com cadeado e, um senhor aposentado passou a ser meu vizinho. Sendo ele, o segundo morador da Praia da Solidão. Gente boa, homem simples, um boa conversa nas tardes chuvosas. Não gostava de peixe, nem de frutos do mar, preferia comer linguiça frita com pirão de farinha de mandioca e ensopado de carne seca. Nas pratileiras do barraco, ao lado do fogão à gas de duas boca, muitas latas de feijão, ervilhas, milho, etc. Costuma ficar na janela olhando o mar, tomando chamarão, fumando cigarro de palha em total silencio. Numa conversa, confessou ser contratado para ficar morando ali. Ganhava salário mensal de um "doto" de Forianópis". Afirmava não gostar do mar. Aquilo me preocupava, isso é especulação imobiliária. Testemunhar o momento da transição de uma linda praia deserta para uma vila de veranistas invasores, muito me desagradava. No inicio, até tentei impedir a construção de cercas de arame farpado ao lado da minha barraca. Mas, de nada adiantava derrubar, eram construídas de novo, na segunda vez, sempre acompanhadas de imposições e ameaças. Percebi que estava correndo risco igual ter cobra coral andando sobre os pés. Cada dia aumentava mais a minha preocupação. Não queria ser morto por defender aquele espaço selvagem; como aconteceu com o Tibúrcio, um amigo nativo da região do Pântano do Sul, unico morador de outra praia silvestre da ilha de Florianópolis, a Praia da Lagoinha do Leste, morto a facadas por defender a natureza selvagem da Ilha (será que a casinha construída por ele com garrafões de vidro ainda existe na Lagoinha do Leste?). Após a abertura da estrada, os carros passaram a dominar a Praia da Solidão. Não havia mais espaço para um solitário viver na Solidão. Tinha chegado a hora de levantar o acampamento. Não queria, nem estava ali para cercar um pedaço da praia, como diversas vezes me aconselharam aqueles que estavam fazendo isso. Minha aventura selvagem tinha chegado ao fim. Sai geliz da Solidão (no duplo sentido) com um tesouro precioso: a experiência de ter vivido por oito meses numa das últimas praias desertas da Ilha de Forianópolis.
Não sabia, ao levantar o acampamento, tinha na bagagem uma história emocionante que ainda me levaria a escrever um romance -iniciciado em 2006 e terminado em 2017-.
Hoje, o romance "A Solidão do Lagarto" (solidão no duplo sentido - lagarto porque era esse o meu apelido na praia), está pronto aguardando a impressão gráfica junto com outros dois livros de minha autoria.
O romace de aventura, nascido da minha rotina solitária na Praia da Solidão, Florianópolis, entre os anos 1984/85, foi escrito com a intenção de divertir, fazer rir, criticar, emocionar e meditar sobre a importânia de manter intocada a natureza selvagem que ainda nos resta. Tem até receitas de alimentos a base de frutos do mar para serem preparados em acampamentos selvagens. Está longe de ser uma obra auto biográfica, mistura realidade com ficção, tem 13 capitulos e um encarte com uma historinha em quadrinhos. No primeiro capítulo tem citações reais da minha internação no HSA, em 1984. Estou lutando para publicá-lo e, vai ser publicado com assinatura de um heterônimo literário porque pretendo, ainda, desenvolver uma longa carreira literária sem misturar com a minha carreira nas artes plásticas de quase meio século de teimosia, digo, de carreira.
O primeiro capítulo do meu romance tem menções da minha internação em coma no HSA/ pode ser lido neste link: https://acrobat.adobe.com/id/urn:aaid:sc:US: c041ada7-40d7-4a04-b3b0- 0002b74e5ef9?comment_id= a9663ef2-dfc0-4d4c-b1c3- 9bfd4921a4ec
Artigo 04) PONDERAÇÕES SOBRE A PINTURA OFERECIDA AO HSA.
Desde o momento em que decidi procurar a diretoria do HSA para oferecer uma pintura, já tinha em mente o tema: "A alegoria das mães". Também já havia definido alguns tópicos para o desenvolvimento da pintura: a) Não queria obra com aspecto depressivo. b) Não queria obra que passasse agressividade. c) Nem desenvolveria uma obra que lembrasse pessoas doentes e feridas. d) Nem criaria uma obra que lembrasse violências e óbitos.
O objetivo, desde o inicio, foi criar uma obra para destacar a força da vida e a alegria de viver. Também, criar uma obra para destacar o trabalho concentrado dos médicos. Assim, objetivei uma obra de cores vibrantes para quando vista de maneira rápida lembra-se um belo jardim. Com a aprovação do tema pelo HSA, só restou iniciar o trabalho. E, de repente, o desenho não avançava, a inspiração não acontecia. Fiquei duas semanas na frente do díptico (obra em duas partes). Desenhava, apagava. Desenhava de novo, apagava mais uma vez. Nenhum traço agradava. Bloqueio artistico é natural, acontece muito entre os criadores. Nada é mais assustador para um pintor do que uma enorme tela em branco. Mas, não agora, falava de mim para mim mesmo. Ademais, a data do lançamento já estava programada, o patrocinador da obra (ver abaixo) já tinha pago o material. Ele, o patrocinador, por apreciar a qualidade em tudo, as tintas óleo importadas são da melhor qualidade, ou seja, as mais caras da loja aumentando, assim, a minha responsabilidade. Não posso me permitir descumprir o acordo, repetia para mim mesmo. Mas, nada do desenho se definir. Comecei a temer não conseguir produzir a obta. Então, esqueci a obra por uns dias . Mudei de tema: Vou pintar uma "brincadeira infantil". Pensei. Também nesse tema, não saia nenhum desenho que me agradasse. Em busca da inspiração, passei a pesquisar alguns artistas para apoio criativo. Primeiro fui para "as brincadeiras" do Orlando Teruz. Nada. Fui para as formas geométricas do Walter Levy e, nada de novo. Por fim, fui para as "brincadeiras" do Portinari e, de novo, nenhum desenho que fiz me agradou. De novo, por uns dias não peguei mais no lápis.
Quando voltei para os desenhos preliminares, o pensamento do nascimento da minha filha no HSA e, o nascimento, há poucos dias, do filho do amigo, agora o patrocinador da obra, me dominou. Deu certo, o desenho de uma sala de parto de um hospital começou a dominar o meu pensamentor. E, a insporação, no momento exato de um parto acontecendo. No desenho expressionista, um médico faz um parto trazendo mais uma criança para a vida. Na pintura pronta, vemos médicos assistentes acompanhando o parto, todos com seus jalecos verdes. A mãe não aparece na cena geométrica expressionista, mas, ê a figura central representada no bebê nas mãos do médico. Atê o nome da obra se definiu no primeiro desenho: NASCIMENTO. Logo, madtugada à dentro (meu horário favorito para pintar), durante três semanas, me envolvi exclusivamente na pintura para o HSA-
Técnica: Óleo sobre tela
Ano da produção: 2024.
DEDICAÇÃO: Para Dr. Bernardo Knoblauch, o primeiro médico contratado por Blumenau em 1857/58. É apontado como o médico que rralizou o primeiro parto no HSA.
CURIOSIDADE: A viuva do Dr. Bernardo Knoblauch, Dona Dorotéia Wagner, faleceu em avançada idade, em 1918, no local onde é hoje o município de Pouso Redondo, para onde se transferira em companhia de um dos seus filhos. Ou seja, a viúva do Dr Bernardo Knoblauch faleceu no município onde eu, Cesar Otacílio Gomes, nasci.
Artigo 05) CONSIDERAÇÕES SOBRE O PATROCÍNIO.
Depois do aceite da minha obra pela diretoria do HSA, parti para desenvolver o projeto da pintura. Não queria simplesmente escolher uma obra, entre as centenas que tenho no ateliê, para oferecer ao acervo do HSA. Aliás, nenhuma obra minha pronta, no momento, aborda uma temática apropriada para parede um hospital. Desde o momento em que pensei oferecer uma obra ao HSA, pensei em desenvolver uma pintura direcionada e exclusiva ao local. De imediato, escolhi a técnica: Óleo sobre tela e, muito importante, usando uma tinta de qualidade para dar durabilidade sécular à obra. Ou seja, a ideia sempre foi produzir uma obra em grande formato e com tinta que, já sabia, seria caríssima. Assim sendo, precisaria conquistar um patrocinador, algo muito difícil de encontrar em Blumenau, se tratando de arte moderna. Então, precisava divulgar a obra na Internet para muita gente, começando pelos meus amigos que sempre apreciaram a minha obra. Assim, desenvolvi um informativo virtual apresentando uma obra que nem existia ainda, mas, eu, seguro, dava aval que a produziria e que seria mesmo incorporada ao acervo do HSA. Dizia ainda que produziria uma das melhores obras da minha carreira de desenhista e pintor com quase 50 anos de teimosia, digo, de trabalho. Se pensar bem, a situação que criei era surrealista, estava oferecendo um produto que ainda não existia, só havia num texto escrito e na minha palavra. Como é da ousadia feito os grandes homens, fui em frente, enviando o meu informativo para muita gente. Logo respostas começaram a chegar e, antes mesmo de terminar o envio para todas as pessoas de uma lista pré estabelecida, um patrocinador apareceu. Era um antigo cliente, um amigo de mais de 35 anos de historias compartilhadas: Edson Pedroso, CEO da Brasmaq, empresa de máquinas portuarias de Itajaí. "Pode contar comigo. Amigo", foi sua resposta apenas cinco minutos depois de eu ter-lhe enviado o informativo. Fiquei bem satisfeito, temos uma história parecida de vida. Ele veio da roça de uma familia de muitos irmãos, começou seu desafio nos negócio do zero, igual a minha carteira de artista plástico (nos conhecenos através do meu trabalho de publicitário, criei a logomarca da primeira empresa dele) Com todo o material de pintura em mãos, comecei a trabalhar na obra para o HSA. Comecei encomendando a montagem das duas telas (trsta-se de um díptico). Duas semanas depois, quando os chassis estavam prontos, Edson, me ligou de novo, desda vez querendo saber como estava a busca de patrocínio. Disse-lhe, eu: "Está bem legal, além de você, já tenho mais duas empresas interessadas". Foi então que, falando decidido, fez uma proposta de patrocínio unitário para que só o nome da sua empresa constasse na plaquinha de metal incorporada na parte baixa direita da obra, dentro do HSA. Algumas semanas depois, quando já estava com a obra pronta e assinada. novamente o Edson Pedroso, da Brasmaq- Maquinas Portuárias, agora o patrocinador oficial da obra que fará parte do acervo do HSA, me ligou. Mais uma vez foi logo falando: "O patrocinador para a plaquinha de metal vai ser a" Árvores Hara", a empresa de arvores raras, adultas, da minha filha, Heloísa, o que me deixou ainda mais contente por ser, eu, um defensor da arborização dos espaços urbanos.Curiosidade: A cor verde da minha pintura não teve a intenção de combinar com o tema do patrocinador da obra, a Ârvotes Hara. A obra foi pintado antes de saber da mudança no nome do patrocinador. Assim, foi conhecidência cor verde da obra combinar com a cor verde de árvores. Na minha inteção, a cor verde na obra é uma alusão a cor dos jalecos dos médicos.
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