PRÉVIA
A Solidão do Lagarto
de Tácio Morais Neto
Conheça, aqui, uma página de cada capítulo do romance gênero aventura "A Solidão do Lagarto", de Tácio Morais Neto (heterônimo literário de Cesar Otacílio Gomes), que será lançado no Teatro Carlos Gomes, em Blumenau, na próxima semana, dia 06 de dezembro.
Ilustrações:
Cesar Otacílio Gomes
Revisão: Elaine
Cristina Sabel Gonçalves
226 páginas
226 páginas
Este livro é dedicado à minha filha e a tudo que deve ser
livre: homens, animais, pássaros e pensamentos.
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NOTA DO AUTOR
Na década de mil
novecentos e oitenta ainda era fácil encontrar praias despovoadas em Santa
Catarina. Igual a muitas pessoas daquela geração, também gostava de me instalar
em lugares distantes das aglomerações urbanas para descobrir praias silvestres
e lugares com natureza inóspita.
Neste meu primeiro livro,
um romance inspirado nessas façanhas, o protagonista Lagarto vive uma aventura
em uma praia selvagem na ilha de Santa Catarina, Florianópolis, na Praia da
Solidão.
Recheada de coragem e
adaptação ao ambiente natural, sua epopeia retrata o momento exato da
transformação de uma bela praia deserta em uma vila para veranistas abastados.
Acima de tudo, é um olhar
sobre atributos humanos.
Narra amizade,
companheirismo,
diversão,
liberdade de viver,
paixões passageiras,
natureza selvagem
e extrativismo de aventura.
Mistura realidade com
ficção. Se teatro fosse, o mar e o ambiente selvagem da Praia da Solidão seriam
o palco, e a odisseia de Lagarto, um roteiro dramático, o qual poderia ser vivido
por qualquer pessoa apaixonada pela natureza e destituída de protecionismos
egoístas.
Tácio
Morais Neto
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PREÂMBULO
No auge da sua juventude,
ele, um personagem singular,
profissional artístico literário,
entusiasta esportivo,
rosto de garoto,
homem respeitado na profissão,
estava insatisfeito.
-
Com o emprego?
-
Com a cidade onde morava?
- Com as pessoas ao
redor?
Nunca definiu ao certo.
Sua única certeza:
precisava mudar a vida monótona.
Então, abandonou tudo.
O emprego,
a cidade,
as pessoas com quem
convivia.
Sozinho,
foi morar em uma barraca, em uma praia
selvagem,
no sul da ilha de Santa Catarina.
Lá,
fez
amizades;
passou
por perigos,
romances
arrebatadores,
festas
ao luar;
coletou
comida no mar
e
aprendeu valores simples da vida.
Sua aventura é ambientada em meio a uma
paisagem natural antes da invasão humana com carros, casas com esgotos, fogões
a gás, pousadas, bares e restaurantes para turistas.
Conhecido pelo codinome Lagarto, ele nunca
mais foi o mesmo.
A praia nunca mais foi a mesma,
Nada mais continuou igual.
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Nome?
Pode ser
qualquer um, não tem a menor importância.
Nome sozinho não faz história, não muda fatos, não é peso nem medida.
Nome sozinho não faz história, não muda fatos, não é peso nem medida.
O valor do nome está na
personalidade da pessoa, nas histórias que viveu, naquilo que construiu, nos
desafios e nas dificuldades que superou.
Para o nome ter valor,
não basta ser bonito, ter pronúncia musical, ou herança familiar.
Isso não vale nada, não
tem a menor importância.
Ele
mesmo
sabe.
Porque o seu já foi nome
do avô, tem pronúncia agradável, gosta de ouvi-lo, não se cansa de repetir.
Tem sorte por ter
recebido o nome que tem, não consegue pensar em outro melhor para si. Revelaria
de bom grado se o considerasse importante nos fatos que vivenciou.
Sua história não é seu
nome, ela aconteceria indiferente a ele. Já seu nome é algo só seu, da sua
família, e não interessa a ninguém.
Assim...
– Não tenho a menor
intenção de anunciá-lo.
Ele diz.
Até mesmo porque nome não
traz respeito, nem honrarias, isso só é conseguido pela soma dos resultados,
das ações e atitudes de uma pessoa, nunca pelas palavras contidas na carteira
de identidade.
Ele sabe muito bem.
Trecho do Capítulo I: “Nome é
indiferente”
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–
É loucura ficar sozinho numa praia deserta, longe de tudo. Coisa de louco!
Parece não estar certo da
sua lucidez, quer ter segurança de que não está desequilibrado. Pergunta-lhe,
mais uma vez, se realmente conseguirá viver sozinho numa barraca, comendo
frutos do mar todo dia, já que não era o tipo de vida e alimentação habituados.
Ele garante estar tudo
bem, ficará bem, está onde quer estar, não precisa se preocupar.
Despedem-se.
Ele acompanha seu irmão
com o olhar andando na praia em direção ao Pântano do Sul até onde a vista o
alcança.
Depois, inebriado pelo
odor da praia, senta-se no banco de bambu na frente da barraca e do mar. Está
totalmente absorto e emocionado.
Pela primeira vez na vida está morando
sozinho,
no meio do mato,
ouvindo apenas os pássaros e o mar.
Feliz pela magia do momento,
cabelos eriçados,
coração disparado.
Olhando o mar e o horizonte,
sente-se poderoso e, ao mesmo tempo, insignificante com a grandeza e a
beleza do lugar.
beleza do lugar.
Trecho do Capítulo II: “Procura pelo morar silvestre”
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Não precisa de muito
tempo para se adaptar ao novo modo de viver, rapidamente aprende a morar com o
mínimo possível de mantimentos comprados em supermercados e lojas.
Sente-se orgulhoso por
dizer para si mesmo:
– Adeus, despesas com
aluguel, prestações, água e luz.
Não
tem eletricidade, água encanada, rádio, televisão, carro, telefone, jornal, e não
sente a menor necessidade disso.
Num fogão-grelha, feito com pedras no
chão,
faz comidas deliciosas, tendo como base frutos do mar pescados na hora.
O mar, agora, era o quintal da sua casa,
o caminho da roça de todos os dias.
faz comidas deliciosas, tendo como base frutos do mar pescados na hora.
O mar, agora, era o quintal da sua casa,
o caminho da roça de todos os dias.
No desjejum: café,
chocolate e leite em pó diluído em água quente, mingau de farinha de milho,
banana amassada e bolinhos.
No almoço, o cardápio
variava: polenta com búzios ensopados, siris, arroz, batatas, mariscos e
castélas assadas com cebolas, ou peixes assados na grelha, até na folha da
bananeira, siri ao natural, macarronada com búzios e saladas. Para acompanhar,
vinho tinto ou caipirinha na temperatura ambiente.
No jantar à luz de velas:
peixes assados com pirão de farinha de mandioca e molho de tomate, ou sopas com
os frutos do mar encontrados ali, no quintal-mar.
Fez um canteiro de
temperos ao lado da barraca, assim, tem cebolinha verde e outros condimentos
naturais.
Fica imensamente feliz ao
descobrir bananas no mato, pés de limão, pitanga, chuchu, mamão e, ainda,
espinafre no costão e agrião d’água na parte alta da cachoeirinha.
Tem até um cachorro, uma cadela preta que apareceu na
praia, numa manhã chuvosa, cheia de bernes e bichos de pé.
Trecho do Capítulo III: “Novo
estilo de vida”
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A cobra coral continua
aparecendo, periodicamente, próximo da hora do almoço geralmente. Uma vizinha
indesejável e intimidadora. Lagarto fica paralisado toda vez que a vê
rastejando sorrateiramente no capim seco, ou parada, coberta de gravetos,
mostrando apenas parte do corpo.
Seu colorido
vermelho,
preto
e branco
aparece entre folhas secas.
Cores arrepiantes,
assustadoras.
– Você é bonita, vizinha, mas toda beleza pode ser
fatal.
Fala
em voz alta, em direção ao mato, como se a cobra estivesse escutando.
– Estou louco. É isso. Primeiro, faço serenatas para
cobras; agora, converso com uma delas, chamo-a de vizinha, desafio-a para uma briga.
Coisa de louco!
Continua
falando sozinho, sentindo-se ainda mais medroso, ridículo e perdido.
Talvez, fala assim para
divertir-se, ou como ele mesmo diz, para ouvir sua própria voz, porque, por
vezes, passa semanas sem falar com ninguém, a não ser com a cadela Tulipa e com
as cobras e, nesse caso, até canta para elas.
De repente,
avista de novo a cobra no acampamento.
No mesmo instante,
o tempo parou,
mas o relógio
não para,
com seu coração
batendo em disparada.
Trecho do Capítulo IV: “Vivendo
com cobras e lagartos”
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Na solidão daqueles dias, relógio era o sol.
Hora de dormir: o cansaço,
Hora de comer: a fome.
Hora de dormir: o cansaço,
Hora de comer: a fome.
Com o calor do sol do
verão, a preguiça se faz presente na solidão do Lagarto, principalmente, após
faustosos almoços regados a caipirinhas, acompanhados de peixes assados,
quando, então, gosta de dormir um sono solto, estirado na rede debaixo das
árvores.
Local de natureza
pródiga, imagens e situações inusitadas surgem e são observadas diariamente na
Praia da Solidão.
Baleias com filhotes no
mar, cardumes de peixes vistos nas rebentações das ondas, golfinhos pulando
divertidamente bem na frente da praia, tucanos nas árvores ao redor da barraca,
aranha caranguejeira subindo pela perna na hora do jantar e ouriços do mato
fazendo barulho nas panelas ao amanhecer. Mas nada foi mais pitoresco do que a
formação de um rio subterrâneo invadindo a barraca durante uma tempestade
noturna.
Isso acontece numa
madrugada, quando ele acorda com o enorme barulho de uma tempestade torrencial.
Raios caiem perto,
árvores gemem no mato,
árvores gemem no mato,
troncos rangem,
sons de galhos quebrando,
ecos no morro.
Uma tormenta com vento
forte e chuva maciça.
Inclemente,
estridente,
insistente.
Trecho do Capítulo V: “Na
Solidão, lembrança do azulão”
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Lagarto
o conhece na praia, quando está colhendo castélas e siris para preparar sopa.
Ele o observa, acompanha-o com o olhar, segue-o no caminhar. Não resistindo à
curiosidade, pergunta de imediato sobre os caramujos recolhidos no final da
onda, por vezes dançando para pegá-los, ou correndo para apanhá-los. Aqueles
curiosos caramujos cinzentos meio roxos que se via rapidamente em cima da
areia, após a água baixar nos movimentos da onda, o que são? Quer saber.
– Que caramujos são esses? Por que
a dança e as corridas para apanhá-los? Servem para comer? São gostosos? Como
são preparados?
Pergunta, repetidamente, com
interesse.
Lagarto,
animado pela nova amizade, explica tudo em detalhes, por fim o convida a
participar da coleta e, ainda, lhe ensina o segredo para ter sucesso na busca
dos maiores moluscos. Divertem-se e conseguem colher muitos frutos do mar.
Depois, Lagarto o convida a experimentar a sopa que preparará ao anoitecer, no
jantar, em seu acampamento.
–
Traga a esposa.
Diz-lhe
Lagarto.
–
Bueno. Levarei a bebida.
À noite, com o fogão-grelha a todo
vapor, Lagarto inicia o cozimento dos frutos do mar. Siris, castélas, búzios e
mariscos fervem ao natural em panelas fumegantes. Ao estarem cozidos, ele
escorre a água e os coloca ainda quentes sobre a mesa de bambu.
– Vejam
só, que lindos, enormes, escolhidos no mar, magníficos!
Fala o espanhol voltado à esposa.
Refere-se aos mariscos que Lagarto havia coletado através do mergulho no
costão. Está
ansioso para experimentar as castélas, o molusco que não conhece. Lagarto
apanha uma, separa o organismo do casulo, lava-o na bacia d’água, tira o fel,
joga água fervente da chaleira em cima e dá-lhe ao espanhol, que a experimenta
ao natural, apenas com alguns pingos de limão em cima.
Trecho do Capítulo VI: “Solidão
com sabor espanhol”
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Tudo começa na praia,
numa noite de lua cheia, quando corre com Tulipa, atividade que costuma
praticar nas noites de luar.
Naquela noite,
a praia está prateada,
o mar está brilhando,
tudo está iluminado de prata e amarelo limão.
A lua deixa Tulipa feliz.
Ela late, corre, pula, quer brincar, dispara na frente e para os lados.
–
Deixa o siri, Tulipa! Não corra atrás dos caranguejos! Tulipa, pare de cavar
buracos! Tulipa!
Fala
Lagarto em voz alta.
Por vezes, casais são
avistados andando de mãos dadas, sentados, apreciando o mar, ou deitados na
grande pedra no final da praia.
– Sai daí, Tulipa! Vem,
Tulipa, vem!
Chama-a,
assobiando o assobio de chamar cachorros. Sua intenção canina é agradar e
brincar, apenas.
Com certeza, pretendeu
isso ao cheirar os pés de duas mulheres jovens, as quais também estão andando
na praia ao luar prateado e retocado de amarelo-limão.
Quer lamber suas pernas,
a cauda balança indicando pretender amizade.
As mulheres se abaixam e começam
a acariciar sua cabeça.
Lagarto se aproxima, não
podia perder a oportunidade de fazer amizade com novas pessoas, ainda mais
sendo belas mulheres, em uma noite de lua cheia, quando o coração fica carente.
Com pretexto de buscar a
cadela, aproxima-se e abaixa-se para segurá-la, passando o braço no pescoço.
Ao levantar os olhos, vê
à sua frente uma bonita morena, banhada pelo amarelo-limão e o prateado da
lua.
Linda,
sorrindo,
olhando-o bem de perto do
rosto.
Lagarto, imediatamente, se atrai pelos cabelos negros brilhando ao luar, pela voz macia cumprimentando-o e pelo sorriso refletindo nos olhos a luz da lua cheia.
Lagarto, imediatamente, se atrai pelos cabelos negros brilhando ao luar, pela voz macia cumprimentando-o e pelo sorriso refletindo nos olhos a luz da lua cheia.
Trecho do Capítulo VII: “Encontros
ao luar da Solidão”
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Pela
primeira vez, desde o primeiro olhar, finalmente estão abraçados. Querem
aproveitar plenamente o momento, ali, sozinhos, na madrugada da Praia da
Solidão.
Roupas,
de um momento para outro, se tornam de importância menor, livram-se delas
rapidamente.
Finalmente,
estão como imaginaram desde o primeiro olhar: juntos, felizes e enamorados.
Longo
tempo depois, não ouviam mais as cantorias e os batuques vindos da festa, o que
os fez deduzir que era outra parada da turma para comer peixes assados e beber
mais um gole de caipirinha.
Nada
que os preocupasse tanto quanto o frio do vento nos corpos desnudos. Nesse
momento, apesar da escuridão, os amantes veem diversas pessoas andando
apressadas em direção ao local onde se encontram. Logo identificam, à frente do
tumulto, o namorado da florianopolitana transtornado, gesticulando e falando
alto. Não dava tempo de mais nada, nem de buscar as roupas numa pedra distante,
nem de pedir para que não se aproximassem. Assim, preferem manter-se abraçados
o máximo que podem na tentativa desesperada de cobrir a nudez dos corpos.
Ao
avistar, na penumbra da madrugada, aquela inesperada situação inexplicável com
sua namorada, xingou e berrou palavrões de baixo calão, dando entender que
estava disposto a brigar com socos, chutes e golpes diversos contra Lagarto.
Ela, a bela veterinária, ainda veste suas roupas enquanto é ofendida e puxada
bruscamente pelo nervoso e inconformado namorado.
Todos
que estão ali, no sereno da madrugada, presenciando aquela bizarra situação, o
seguram quando se dirige em disparada na direção de Lagarto, com a intenção de
atingi-lo com chutes e socos no rosto, quebrar seu nariz, pernas e o que mais
conseguir.
Já
Lagarto, ainda nu, procura suas roupas, as quais, na confusão, não sabe onde
foram parar.
Apesar
das evidências, tenta explicar:
–
Não fizemos nada demais, nada demais.
Ninguém acredita, muito menos o
namorado da veterinária, que, ainda transtornado, ameaça voltar caso consiga se
soltar de quem o está segurando, para acerta-lhe um soco na cara. Ele gritava
alucinado, surtado, tremendo de nervoso. Fora ele, ninguém mais deu atenção ao
que acontecia, pois isso faz parte dos mistérios das madrugadas na Praia da
Solidão, como um campista falou.
Trecho do Capítulo VIII: “Solidão
de amores efêmeros”
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À noite, com ajuda de
outros colegas, organizam uma festa na praia, com fogueira, comidas, bebidas e
cantorias, tendo participação de todos os campistas na Solidão.
Naquele final de semana,
Lagarto e a nova namorada parecem feitos um para o outro, quem os vê juntos
jura ser amor duradouro, formam um belo, instigante e feliz casal.
Estão sempre juntos,
abraçados, e andam sempre de mãos dadas, como neste momento, em frente ao calor
da fogueira.
Ao lado da fogueira,
a noite parece nunca ter fim.
a noite parece nunca ter fim.
Tem-se a impressão de que todos ficarão ali,
ao luar e ao sereno,
sonhando para sempre.
ao luar e ao sereno,
sonhando para sempre.
A madrugada chega e a
fome também. Para conseguir coletar comida e divertir-se ao mesmo tempo naquela
hora, os campistas avançam em direção ao mar. Com uma pequena rede de arrasto e
puçás, apanham rapidamente a ceia da madrugada: pequenos peixes, algumas
tainhotas, siris e castélas. Todos se molham sem se importar com a água gelada
do mar, se divertem e dão gritos de alegria e longas risadas ao mesmo tempo.
Logo, no fogão-grelha de Lagarto, tainhotas são assadas, pequenos peixes fritos
inteiros, paneladas de siris e castélas cozidos ao natural.
Para comer, como é
costume, não se exige etiqueta, cada qual pega um peixe, ou um siri, e come até
sobrar apenas espinhas de peixes e cascas de moluscos. Espetinhos com castélas,
búzios, cebolas e tomates são comidos com apetite, restando apenas varetas de
bambu jogadas ao fogo.
O braseiro do
fogão-grelha parece pequeno para tantos peixes e pessoas com apetite.
Trecho do Capítulo IX: “Solidão
com comidas e flores”
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Tainhotas assadas ao Sistema Solidão
Ingredientes:
- Dez tainhotas (ou quantas tiver), recém-saídas do mar.
- Quatro limões.
Modo
de preparo:
- Após acender um braseiro, colocar os peixes sobre uma grelha, sem remover escamas e vísceras.
- Deixar assar totalmente de um lado e só virar quando, ao serem verificados, os peixes se soltarem facilmente da grelha.
- Depois de assados, raspar as escamas do peixe com uma faca e retirar as vísceras, as quais, quando assadas, ficam endurecidas e fáceis de serem removidas.
- Comer os peixes por inteiro, apenas espremendo limão sobre eles.
Caldo de Tatuíra
com espinafre Solidão
Serve seis pessoas
Ingredientes:
- Trezentos mililitros de concentrado de tatuíras.
- Doze tomates cerejas (ou três tomates grandes).
- Duas cebolas de tamanho médio.
- Tempero verde.
- Um maço de espinafre.
- Três pitadas de sal.
- Para fazer o concentrado, coletar, aproximadamente, um litro de tatuíras vivas.
- Lavar os pequenos crustáceos, parecidos com tatus em miniatura, para remover a areia trazida do mar.
- Num pilão (que pode ser feito com um gomo de bambu cortado em forma de copo), macerar cuidadosamente as tatuíras com um soquete de madeira, até formar uma polpa concentrada.
Trecho do Capítulo X: “Ao
sabor da Solidão”
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Durante extensos minutos,
nada, mergulha, boia, não se importando com a temperatura fria da água, tudo
que deseja é curar a ressaca que o incomoda. Após longo tempo se divertindo,
sente-se melhor e bem mais disposto, está pronto para voltar ao acampamento e
preparar o café da manhã. Até pensa no cardápio, algo leve, como chá de
hortelã, torradas e mel. Mas, ao tentar nadar de volta para a praia, se assusta
por não conseguir avançar.
Ao contrário, constata
alarmado que já está longe demais e cada vez mais se afastando da praia. Tenta
nadar, aproveitando a força da onda na esperança de avançar em direção à areia
da praia, e nada consegue, a não ser se afastar ainda mais.
Olha toda a extensão da
praia em busca de alguém a quem possa sinalizar e pedir ajuda, mas não avista
ninguém, a não ser Tulipa, correndo na praia naquela hora da manhã. Pratica seu
esporte favorito, corre, pula, incomoda caranguejos, perturba siris, tira a
tranquilidade das tatuíras. Caso estivesse ao seu lado, diria para parar com
aquela bagunça, só para mostrar quem manda. Lagarto pensa, sorri, deu-lhe
vontade de gritar para sua cadela, caso não estivesse tão longe da praia, no
meio das ondas e em apuros. Precisa sair dali.
Cansado, no mar,
aquela situação o preocupa demais.
aquela situação o preocupa demais.
Dizem que, quando a vida
está por um fio, toda a existência passa na frente, como em um filme. Pura
verdade! Naquela hora, os pensamentos vieram aos turbilhões, tinha que
organizá-los sem entrar em pânico. Lagarto pensa na família, na mãe, no pai,
nos irmãos, nos amigos, nos professores, nas namoradas e, como não tinha
inimigos, não pensa neles.
O tempo passa, e ele
percebe assustado que cada vez mais se afasta da praia.
Trecho do Capítulo XI: “Perigos
no mar e na areia”
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Os campistas
descontraídos e conversadores, junto ao ambiente familiar, numa praia deserta,
logo atraem a atenção de Lagarto. A principal curiosidade não era por esse
fato, nem pela raridade do fato, muito menos pelo aroma da comida caseira
preparada num pequeno fogareiro a gás, e sim pela beleza estonteante e exótica da
filha mais velha daquela família.
Não sabe motivo de tanta atração,
a mulher parece imã a domina-lo,
é música de sereia chamando pelo marinheiro apaixonado.
a mulher parece imã a domina-lo,
é música de sereia chamando pelo marinheiro apaixonado.
Desde o primeiro momento
que a viu andando na praia não consegue mais tirá-la do pensamento. Seu coração
descompassa cada vez que a vê. Suspira sozinho ao cruzar por ela. Seria capaz
de se colocar escondido só para observá-la, e ficaria assim durante horas, ou o
dia todo.
Vê-la ao amanhecer é
visão que o deixa eufórico o dia inteiro, bastava isso para deixá-lo feliz. Até
tem vontade de conversar com ela, mas, como nada sabe, nem seu nome, nem o que
faz, prefere ficar apenas
observando-a,
apreciando-a,
sem se cansar.
Entretanto, ela demonstra
ter sentimento contrário ao seu, e a certeza vem da negativa explícita de não
querer amizade quando, ao cumprimentá-la, não obtém resposta.
Frustração enorme, toda
segurança e estratégia utilizada por ele antes para conquistar mulheres não
funciona e não serve para mais nada. Parece contramão, afastando-a ao invés de
atraí-la. Por mais que se esforce, não consegue chamar sua atenção, fazendo
parecer que todo seu poder de sedução foi destruído por essa intrigante mulher.
Sente o chão tirado dos pés, perdido em círculos, sem saber o que fazer, qual
direção tomar, mas tem uma única certeza: basta vê-la para ficar feliz.
Trecho do Capítulo XII: “A
bela da praia e a lenda do guerreiro fugido da guerra”
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Também, carros e ônibus
nunca vistos antes, agora, comumente, são encontrados na areia da praia e do
acampamento com suas cores industriais misturando-se com a bela imagem até
então intocada.
Alguns motoristas
empolgados, para mostrar que são espertos, estacionam seus amados veículos bem
próximos da água do mar e, talvez, assim, sentem-se verdadeiros conquistadores
com seus ricos troféus na Praia da Solidão.
Chama a atenção um
motorista afoito, num dia nublado, mostrando sua alegria por ter chegado à
Praia da Solidão. Parece estar exercitando seu talento de piloto de corridas e
apresenta suas habilidades para quem não tinha nada melhor para ver. Dá voltas
e mais voltas velozes na areia da praia, quando, de repente, breca, girando
bruscamente o carro, jogando areia para todos os lados. Que lindo, ele deve
dizer, considerando agradar tatuíras, siris, gaivotas e alguns veranistas, pois
repete constantemente a sua mesma manobra. Não satisfeito, acelera o carro até
a beira do mar, respingando água numa nuvem para todos os lados. Não tem algo
melhor a fazer, ou será que sabe o que faz? Perguntam-se dois pescadores e
Lagarto, que assistem àquela bizarra demonstração de habilidades
automobilísticas daquele motorista, um herói moderno tão apreciado pelas mídias
e por pessoas pouco esclarecidas.
Uma situação
perturbadora. Todos os presentes, Lagarto, pescadores, tatuíras e gaivotas não
estão gostando do espetáculo, nem das buzinadas e do barulho estridente do
escapamento aberto do carro.
Talvez, a inteligência do
motorista de habilidades duvidosas é maior do que aparenta, e ele, piloto de
radicais manobras na praia, só está lavando com água salgada do mar seu
potente, reluzente e amado automóvel. Vai ver, é isso mesmo. Mas, se alguém
pensa isso, tem certeza de que se enganou ao vê-lo encalhado na areia após uma
das suas, agora famosas, manobras automobilísticas executadas.
Por mais que acelere, não
consegue sair do lugar, apenas faz com que os pneus percam tração, afundando-se
ainda mais na areia.
Teria ficado ali,
disponível para a maré alta e os siris, caso não tivesse ninguém para ajudá-lo.
Para a sorte do motorista, agora menos empolgado, havia, no momento, Lagarto e
dois pescadores dispostos a empurrar o pesado veículo.
Trecho do Capítulo XIII: “Carros
e ônibus na Solidão”
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O livro "A Solidão do Lagarto" pode ser baixado através do site cesarotacilio.com